quarta-feira, 12 de março de 2014

Pensando mais um pouco (continução da postagem anterior)

Estava aqui pensando mais um pouco no assunto da última postagem e comecei a fazer umas associações, inclusive em alusão a Breaking Bad. A metanfetamina de Walter White tem tudo a ver com o combustível utilizado em muitos escritores para se criar esta sintonia perfeita com este momento de produção mágica - seja ela escrita ou leitura. Este assunto já foi tema inclusive de uma postagem do ano passado sobre smart drugs, logo quando comecei a escrever este blog.

É fato que um bom café, de preferência um bom espresso, nos faz acordar e nos deixa mais disperto. O café sempre esteve associado à leitura e a literatura, visto os cafés literários que acontecem por aí, assim como muitos coffee shops reservam na maioria das vezes um ambiente propício a leitura de seus clientes. Não quero escrever de forma didática, mas o café é uma substância que age de forma química no nosso cérebro, alterando nossa percepção e nos proporcionando um estado de maior atenção quando estamos lendo. No quesito químico e alteração da percepção nada se difere muito das drogas ilícitas. É sabido que Freud escrevia sob efeito de um estimulante mais poderoso, a cocaína. Inclusive, o próprio psicanalista publicou um livro sobre os efeitos mágicos do pó em sua percepção.

Interessante pensar também que nem somente de estimulantes outros autores, escritores e poetas se interessaram também. Thomas de Quincey escreveu um livro sobre suas experiências com o ópio e que foi influência para vários escritores posteriormente como Aldous Huxley, Baudelaire, Rimbaud e outros. A literatura beat usou e abusou das experiências alucinógenas como combustível para seus poemas e romances. Acredito que de certa forma, todos estavam interessados em se sintonizar a este momento ímpar de produção textual. Até que ponto somos sujeitos meramente reféns do estado X de nossos cérebros? Até que ponto uma ajudinha é válida? O uso de substâncias químicas ou drogas, como preferirem, diminui ou não sua capacidade de pensar? E destes escritores tidos como cânones? E o seu cérebro, tem fome de quê?

A Química da Leitura e a Química da Escrita

Não, o título não é uma referência ao subtítulo que a Record adotou para Breaking Bad. Enfim, ando pensando muito em como a química em nossos cérebros pode influenciar nossos comportamentos e nossos sentidos. Não por acaso, tenho uma linha de pensamento, de certa forma, treinada a pensar o contrário. Porém, não se pode radicalizar nenhuma das opiniões tomando como norte a polaridade das mesmas. Há sim um meio termo, porém, o quanto disso pode ser mensurado ou tomado por verdade? Falando em seres humanos, como objeto desta análise, torna-se o assunto mais delicado ainda, visto a singularidade de cada um.

A escrita não é para mim uma válvula de escape como a é em muitos escritores. Sou antes de tudo um leitor. Mas um leitor que gostaria de ser escritor. Perguntas como o que inspiram os escritores a escrever ou como é o processso criativo destes, estão sempre presentes em encontros literários e entrevistas com grandes autores e são sempre interessantes as respostas de cada um. Será que a escrita tem a ver apenas com o desejo de escrever? Será que é um momento sináptico especial somado a uma boa dose de brainstorm de certos sujeitos? Como "calibrar" e acertar estes "ponteiros" no momento exato deste processo sempre que se quer produzir um texto, um conto ou uma tese?

É difícil de se escrever um manual da escrita como processo, pois pode não funcionar para todos. Porém, quem estuda ou escreve já deve ter se pego pensando em quais elementos ajudam a equilibrar ou criar um ambiente propício para a coisa. Um local organizado, arrumado, em silêncio ou com música erudita, uma janela com uma vista inspiradora ou uma biblioteca cercada de livros, um ar condicionado na temperatura ideal, uma casa vazia ou uma casa no campo/praia, etc. Existem inúmeras situações em que pode-se proporcionar um ambiente ideal para escrita. Porém, estas são as situações externas. E as internas? Com todo o universo exterior fluindo para sua escrita, leitura ou estudo, como lidar com seus demônios internos? Estariam eles dispostos a cooperar por causa de uma simples arrumação? Excluo aqui as situações em que somos impelidos a produzir algo por causa de uma faculdade, curso, trabalho, pois muitas vezes a pressão externa basta para produzirmos algo. Porém, no meu caso, quando estive submetido a estas pressões, muitas vezes não sentia o clímax da uma boa leitura ou escrita, como muitas vezes deveriam ser.

Escrever é sintetizar tudo aquilo que pensamos, pesquisamos ou sentimos em determinado gênero de leitura. Nem parece difícil quando o fazemos em algumas vezes, entretanto, em outras cria-se aquele bloqueio diante da tela em branco com o cursor piscando. A leitura não é menos simples também. Ler um livro técnico é diferente de ler um romance, um best seller ou um livro de contos do Luís Fernando Veríssimo. Alguns livros podem ser lidos no ônibus indo para o trabalho outros requerem total atenção e exigem certas anotações durante a leitura, ou necessariamente, estar sintonizado naquele tipo de leitura.

Sou um leitor que poderia ler mais. Não sei se essa é uma preocupação de todos os amantes da leitura. Já pararam pra pensar em quantos livros você lê em 1 ano? Ou quantos você poderia ler em 1 mês? É notório que quanto mais se lê, mais bagagem se adquire e mais capacidade crítica se desenvolve em diversos campos e assuntos. Quem lê mais, possui muito mais assuntos interessantes para conversar e consequentemente se torna mais interessante. Tenho feito ultimamente um planejamento de minhas leituras (artigos científicos, livros, revistas, etc) diariamente. Sabe quando se tem a sensação de que o dia teve um bom rendimento intelectual? Vou falar mais sobre isto na próxima postagem. Pra finalizar, deixo no ar as questões: O quanto você leu hoje? O quanto leu nesta semana? Como ajustar o ponteiro e alinhar o desejo para uma boa produção de leitura e escrita?