terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Sons of Anarchy

Há algum tempo tinha ouvido falar desta série, mas confesso que achei o tema dos motociclistas e a palavra anarquia muito clichê e não me interessei e nenhum dos meus colegas que tenho alguma consideração sobre suas opiniões havia assistido ou recomendado. Pelo contrário, alguns colegas idiotas estavam vendo e achando "muito massa". Nem considerei assisti-la e me arrependo de não ter pesquisado um pouco mais.

Sons of Anarchy é bem escrita e o enredo te envolve como quase nenhuma outra série. Se você curtiu Breaking Bad, pode ter certeza que é algo no mesmo patamar, mas mais pesada. SOA é sobre um moto clube a lá Hell Angels: crimes, drogas, armas, violência, contracultura e boa trilha sonora. Nada a ver com moto clubes de médicos e dentistas endinheirados.

A trama se desenvolve num emaranhado de conexões que ficam cada vez mais interessantes e mais profundas. Quando você acha que as coisas chegaram a um limite vem um novo episódio e desce mais fundo ainda. É tenso e angustiante em alguns momentos, mas viciante ao mesmo tempo. Estou terminando a terceira temporada e todas as três, vistas até agora, são excelentes.

Algumas séries e filmes fisgam a gente de uma forma que é difícil de explicar. Aquilo que nos deparamos em momentos trágicos de nossas vidas e que não temos palavras pra descrever é o que se chama Real em Psicanálise. Acredito que o Real muitas vezes emergem na arte quando a arte nos toca de alguma forma. O final da terceira temporada é um trem descarrilhado. Poucos são os momentos em que nos deparamos com algo tão intenso na música, nos filmes, na arte em geral e a trilha sonora de Neil Young não podia ser melhor:

Out of the blue and into the black
They give you this, but you pay for that
And once you're gone, you can never come back (...).

Música, poesia e um enredo genial. SOA trás aquela sensação de que você está vendo algo muito acima do padrão e que você tem vontade de indicar a todo mundo. Então, esta é minha indicação de Série para começar o ano. Boa sorte!

domingo, 21 de junho de 2015

Perguntas Cretinas de RH

Esses dias me ligaram de uma grande empresa, uma multinacional, me oferencendo uma vaga de emprego. Eu estava no trânsito, dirigindo e encostei o carro para ouvir a proposta, fiz algumas perguntas sobre a vaga e a recrutadora logo me perguntou se poderíamos fazer uma breve entrevista. Não gosto destes recrutametos feitos assim, com pressa, já me causa logo uma impressão de falta de organização e 90% das vezes estou certo. A entrevista não serve só para o recrutador ter suas impresões sobre o trabalhador, mas serve também para o trabalhador ter uma impressão da empresa que quer contratá-lo e no fim das contas você decide se aceita ou não vender suas horas de trabalho aquela empresa.

Porém, muitas vezes, o jogo se dá ao contrário, como se a empresa fosse o último biscoito do pacote. E é muito bom fazer as recrutadoras saberem que as coisas não são assim, principalmente quando você já está empregado e numa posição confortável em que não precisa mendigar migalhas para as grandes corporações capitalistas. O mais cômico também é saber que quem recruta é uma pessoa que também é uma simples empregada, descartável como qualquer outra, que muitas vezes ganha menos que você, que está insatisfeita com seu emprego, é explorada, mas porta-se como se fosse a dona da empresa, querendo vender uma imagem que não é dela.

É neste momento que vêm a pergunta cretina da recrutadora: "Por que você gostaria de trabalhar conosco?". Esse também é o momento em que a recrutadora espera aquelas frases de efeito onde você vai rasgar de elogios a empresa onde ela trabalha, dizendo que é uma empresa líder no mercado, respeitada, que realiza grandes projetos no mundo todo, que é muito bem vista e que você sempre sonhou em trabalhar pra uma empresa assim. Mas ao invés disso você, você faz uns 3 segundos de silêncio, pensa em tudo isso que deveria dizer e dá apenas um risinho debochado e diz o óbvio do óbvio: "Olha, eu trabalharia pra vocês se me oferecessem um salário melhor do que eu ganho...". O que é a mais pura verdade, não? Mas não é o tipo de resposta que a super qualificada recrutadora quer ouvir de você. Ela quer ouvir você fingir de modo convicente que quer estar lá naquela empresa que é tão ruim como todas as outras. Ela quer que você jogue esse joguinho. É muita hipocrisia, achar que alguém prefere suar a camisa por amor do que por dinheiro, que você precisa para pagar suas contas e ter um pouco de conforto. E, hilariamente, a mesma pessoa que recruta, é aquela que está todos os dias buscando uma outra oportunidade para ganhar mais em outra empresa.

Conclusão, ela quis me oferecer uns 200 reais à mais do que eu ganho para trocar de empresa. Óbvio que não aceitei.

domingo, 22 de março de 2015

Uma História

Ando me aventurando a publicar uma história no Widbook. Já publiquei 3 capítulos, quem quiser acompanhar, segue o link abaixo:

Seventh Son

Sexta fui convocado a ir ao cinema ver O Sétimo Filho. Tenho sempre resistência a ir ao cinema para ver qualquer tipo de filme. Qualquer tipo, quero dizer, qualquer coisa que esteja passando pelo simples fato de ir ao cinema. Listo algumas razões: Questão de tempo de sair do conforto de casa, logística, valores absurdos de estacionamento no shopping, ingresso no cinema, pipoca super faturada, etc, e o fato que, depois de pagar por tudo isso, você "meio quê" ter que ficar lá pra ver o filme todo. Coisas que não aconteceriam se eu visse o filme em casa.

Sim, o filme é ruim. Batido e não te envolve. Deveria ter suspeitado desdo o início com a quantidade de adolescentes na sala, mas nem me toquei no momento. Fica a dica: muitos adolescentes na fila do cinema para ver um filme, desconfie. Mas o que ainda me motivou a ver o filme foi a associação do nome ao álbum do Iron Maiden: Seventh Son of a Seventh Son.

Não sabia que este álbum era alguma referência folclórica ou literária de alguma história. O heavy metal tradicional sempre me surpreendendo com referências a arte. Em 2000, o Iron lançou um álbum com referência ao livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, Brave New World. Se quiser saber mais sobre O Sétimo Filho, vale mais a pena escutar todo o álbum Seventh Son do que perder 1h30min no cinema.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Info Digital

No fim de 2014, fiquei sabendo que a Revista Info deixaria de ser produzida impressa. Tive muita resistência com a notícia, ainda mais sendo assinate e colecionador. Sou assinante da revista há uns 2 anos e acompanho mensalmente seu conteúdo. É uma excelente revista para quem quer ficar por dentro das novidades na área tecnológica, smartphones, tablets, apps, gadgets em geral, etc.

Antes de ser assinante, comprava mensalmente a revista nas bancas. Uma vez perdi de comprar a do mês atual e comprei a versão digital no site. Me espantei com a interatividade da revista no tablet. Áudio, vídeos, clips, animações, etc. Tudo nas páginas da revista, sem precisar "fechar a revista" e sentar ao computador para acessar algum conteúdo multimídia. Mas não mergulhei neste universo e continuei comprando a revista física nas bancas.

Sou um colecionador de cultura, tenho revistas antigas que não me desfaço delas, artigos da época da faculdade, apostilas, livros e várias outras coisas. Ter todo esse material digitalizado me desocuparia muito espaço físico na minha casa, mas confesso que bate um sentimento de vazio que chega ser hilário - e que não deveria ocorrer. É quase que algo sintomático e sem dúvida bem obsessivo. Gosto de estar cercado deste material e pensar que tudo poderia estar num computador ou tablet, me soa um pouco estranho. Seria muita modernidade para um fetichista como eu.

A experiência de ler uma revista digital não é ruim ou razoável. É super interessante. Você tem ali na página vídeos, música e todo conteúdo multimídia que a revista física não tem. Eu recorro muitas vezes a internet quando leio revistas. Quero sempre checar um link, um vídeo, uma música, etc e no tablet você tem tudo isso na mesma página. Pra quem não tem espaço em casa para guardar revistas e livros e não se apega a estas coisas um tablet é tudo o que você precisa.

Acabei de ler a edição de fevereiro no tablet. O conteúdo pode ser todo acessado offline, com exceção de alguns links. Confesso que me fez pensar também se outras revistas também já possuem um conteúdo digital, como a Cult, a Roadie Crew ou a Modern Drummer, por exemplo. Lembro quando o JB anunciou que deixaria de ser impresso. Na época eu comprava todo sábado o jornal, apenas para ler o caderno de literatura. Depois que virou digital nunca mais li. Não faço a menor ideia se ainda existe. Provavelmente vou procurar saber se ainda existe o suplemento e voltar a lê-lo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Processando Informações



Durante toda uma vida recebemos bastante informações e conhecimentos por meio de livros, revistas, pessoas e até mesmo lugares que visitamos. Toda essa informação fica armazenada em nossa memória ou ao que temos acesso a elas, porém muitas vezes esquecemos alguns dados ou passamos a não ter muita certeza da confiabilidade de certas informações. Talvez num futuro próximo os computadores poderão nos ajudar a utilizar de forma melhor o acesso a essas informações de forma instantânea.

Lendo a coluna da Alessandra Lariu na Revista Info de setembro, me deparei com alguns questionamentos de seu texto quanto a uma dieta digital de informações. Vivo me policiando em relação as prioridades de leitura diária e procuro também priorizar algumas horas de meu dia para leituras específicas, sem deixar que nuggets de informações me atrapalhem durante minha jornada.

Em sua coluna ela aponta uma certa preocupação quanto ao comportamento das pessoas diante de tantos dados e tantas informações e o tempo que nos dedicamos ou perdemos diante de tantas opções e variedades. Pelo menos foi o que eu pesquei um pouco de seu texto ou o que me fez refletir. E a frase final foi bem mais impactante pra mim: "Afinal de contas, é mais importante processar informações do que ser processado por elas".

Há alguns anos venho desenvolvendo um banco de dados com materiais multimídia que tenho. São centenas de textos, livros, artigos, apostilas, livros, filmes, documentários, séries, músicas, shows, revistas e inclusive fotos que tirei ao longo dos últimos quase 20 anos. É uma tarefa árdua, mas não tenho meta para terminá-la, e isso faz com que não me angustie com a gigantesca quantidade de dados. Todos esses dados são informações que adquiri nos últimos quase 25 anos. São informações que fizeram parte de meu crescimento e de minha vida.

 Durante os primeiros anos me dediquei basicamente a inserir estes dados de forma a catalogar o máximo de informações de determinada coisa. Ultimamente tenho me dedicado a cruzar estas informações.

Proponho um exercício. Pense num tema que você considera interessante no momento. Quantos livros você tem sobre este tema? Se você tem mais de 200 livros talvez tenha que pensar um pouco mais. Será que tem alguma revista sobre este tema? Filmes? Documentários? Música? Quanto maior o leque de opções, mais difícil fica de termos certeza se temos este tópico entre as coisas que possuímos. E mesmo que lembremos que temos, onde está aquela apostila excelente que você leu na faculdade com determinado escritor que falava muito bem sobre este tema? Muitas vezes temos acesso a determinadas informações que naquele determinado momento não nos interessam tanto, mas que podem ser úteis no futuro.

Recentemente li James Joyce pela primeira vez. Há anos sei de sua importância como clássico, mas nunca tinha parado pra ler um livro e me encantei com sua escrita ao ponto de elevá-lo ao nível de escritores de peso como Dostoievski e Goethe. Acabei buscando por informações em minha planilha e descobri que tinha um documentário, revistas e artigos sobre o escritor que me fizeram buscar a entender melhor sua obra.

É óbvio que algumas informações podem ser acessadas apenas googleando na internet, mas artigos, revistas, textos de faculdade e até alguns documentários podem não estar disponíveis. Sem este banco de dados eu nunca lembraria onde tenho estes materiais ou se algum dia os tive nos últimos 25 anos. É um tipo de mecanismo muito útil a professores ou a quem curte relembrar referências de materiais que se tem interesse. Poderia-se criar QR codes em livros e revistas ou mesmo em arquivos digitais para estes bancos de dados possam ser criados mais facilmente e assim facilitar em muito o trabalho de catalogação e o acesso de nossa memória às informações importantes. Estas conexões facilitam muito o trabalho de referência, memória e acesso a informações de forma prática.


Exemplo de gráfico gerado do acervo levando em conta: livros, artigos, filmes e documentários, revistas e recortes.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Foucault na Cult

 

Foucault é um dos meus filósofos favoritos e um dossiê na Revista Cult é sempre bem vindo. É interessante como a Cult consegue resgatar um pouco da história da filosofia clássica no seu dossiê. É possível ler algumas histórias da visita de Foucault ao Brasil na década de 60 e 70 e sua passagem pela USP, PUC-RJ/SP e outras faculdades.

Tive a oportunidade de visitar a USP 2 vezes. Uma em um congresso e outra numa reunião estudantil. A segunda visita foi bem melhor, porque o lugar respira história e tive contato com vários estudantes de lá. Saber que Foucault esteve por ali ou que ali tiveram os Centros Acadêmicos mais resistentes do período da ditadura faz da USP uma universidade diferenciada.

Foucault antes de tudo era um intelectual engajado. Coisa rara hoje em dia. Sempre gostei disso, de ser um intelectual orgânico. Alguém que esteja sempre antenado com o que acontece na cidade, no país ou no mundo. Nunca fechado aos livros, mas podendo aprender deles e a questionar as coisas. Sempre questionei a finalidade de se especializar em apenas uma coisa e não participar de forma política das decisões da cidade, do estado, do país. Não estou me referindo ao voto. Ainda tem gente que acha que votando vai mudar alguma coisa. Me refiro as pessoas que mesmo gostando de ler, continuam estúpidas. Nem todo mundo com ensino superior ou doutorado é culto. Nem todo mundo que lê muitos livros de auto ajuda ou best-sellers é culto. E nem todo mundo quer ser culto ou se importa em ser culto. Mas gostar de ler, ter títulos acadêmicos e não ser culto é quase uma burrice. E os que são cultos e são reacionários por opção? Esses são lamentáveis e renderia um dossiê na Cult pra (tentar) explicar o que se passa.

Foucault, assim como Sartre sempre foram referências pra mim do papel do intelectual na sociedade. Alguns textos do dossiê procuram esmiuçar epistemologicamente o pensamento de Foucault. Confesso que não tenho uma leitura profunda destas questões, mas são sempre interessantes de saber que algo além do normal existe ali. Os filósofos franceses da década de 60 e 70, em sua maioria, ainda constituem um grande campo pouco explorado por mim.

Tem uma matéria também interessante sobre Claudio Willer e os Beatniks. Claudio Willler foi um dos primeiros divulgadores sobre o movimento literário beat. Como fã de Kerouac e Ginsberg, me parece leitura obrigatória.

Logo no início da revista, tem uma entrevista com a Barbara Cassin, que também não conhecia. Ela é uma filósofa francesa contemporânea que trabalha bastante com os filósofos pré-socráticos. Pra quem tende a voltar os olhos sempre aos filósofos mais atuais, a entrevista abre um vasto leque de quanta coisa interessante existe dos primórdios da filosofia e de textos que são essenciais, inclusive para Psicanálise. A filósofa tem também vários trabalhos com Alain Badiou.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Da Cafeína e seus Usos

Hoje me senti meio Baudelaire ou Thomas de Quincey querendo narrar os efeitos mágicos da cafeína em minha mente. Já experimentei diversas drogas como maconha, haxixe, cocaína, lsd, cogumelos, anfetaminas, álcool e café. Destas todas faço apenas uso exporádico do álcool e do café. Deve ter mais ou menos um ano que tenho utilizado cafeína e foi justamente sobre este assunto que dei início a este blog.

No início dos anos 2000 experimentei pela primeira vez guaraná em pó para estudar. Nesta época eu trabalhava e estudava e precisava dar conta de quantidades enormes de textos para a faculdade. Gostava de estudar à noite e varava a madrugada se precisasse para dar conta de uns artigos ou livros. Mas assim como toda boa droga, uma hora a bendita perde o efeito inicial e assim foi com o guaraná em pó. Aquilo que era natural e me deixava 3 vezes mais inteligente e antenado não fazia mais o efeito esperado. Quando experimentei pela primeira vez, achei que aquilo fosse revolucionar minha vida. Mas nunca fiz uso durante muito tempo de nada disso. Era apenas para ocasiões especiais, onde eu precisava estudar muito. O mesmo vale para as drogas recreacionais. Nunca gostei de fazer uso diariamente, pois não acho que tenho tempo a perder chapado.

Logo o guaraná não servia pra mais nada. Era como beber água, sem contar com o sabor horrível. Tentei redbull e também não deu em nada. Uma amiga de faculdade na época tomava umas anfetaminas para emagrecer e me dizia que ficava dias sem dormir e me ofereceu. Aceitei, claro. Fiz várias perguntas a ela e achei que não faria nenhum mal tomar uma. Lembro que era final de algum período da faculdade e eu precisava comer um livro de 500 páginas em dois dias. Algo do tipo. Comecei a estudar naturalmente até ficar com sono e começar a perder a concentração. Peguei o comprimido e tomei. Meu cérebro começava a turbinar. Os pensamentos iam ficando cada vez mais rápido e você se sente uma máquina de pensar. É como se seus olhos fossem os faróis altos de um carro numa estrada escura à noite. E quanto mais eu lia aquela matéria difícil e enjoada, mais ela se esclarecia e ficava interessante. Tudo fazia sentido. Eu anotava, rabiscava umas coisas aqui, ali e continuava a devorar o livro. Era intenso.

Quando menos esperava já estava clareando o dia. O sol começava a nascer e eu tinha passado a noite toda estudando. Aquela sensação perfeita e ter aproveitado bem o tempo. Dormi um pouco de dia, resolvi minhas coisas e de noite quando voltei da faculdade encarei uma segunda noite de estudos. Era a última noite antes da prova. Tinha pegado mais 2 comprimidos com a tal amiga. Tomei um e comecei a estudar umas 23h. Quando eram quase 4h da manhã meu cérebro já estava cansado, querendo desligar. Fiz uma pausa, tomei um banho, fiz um café e tomei o segundo comprimido. Não podia me dar o luxo de parar ou dormir. Parecia o pac-man comendo aquela geminha de ouro pra ficar mais forte e derrotar os fantasmas. Continuei até às 7h da manhã. Terminei o livro, revisei a matéria e fui pra faculdade. A prova devia ser às 8h, mas a professora atrasou e só chegou às 9h. Comecei a fazer a prova ainda no pique, mas no meio da prova, me senti como o superman ao lado de criptonita. Fiquei fraco de repente. O sono veio querendo me atropelar e meu cérebro querendo desligar naquele minuto. Fiquei desesperado, pedi pra ir no banheiro, pra poder dar uma volta pelo corredor, jogar uma água na cara, sei lá. Lembro que fiquei bem preocupado e faltando umas 2 últimas questões tive dificuldade de me concentrar e escrever. Mas não desisti e dei o máximo de mim, sem remédio nenhum ou estimulante. Era a última prova do ano e saímos de lá e fomos beber pelo menos uma cerveja na esquina. Me despedi de umas amigas e fui pra casa que nem um zumbi com medo de dormir no ônibus. Apaguei quando cheguei em casa. Foi a última vez que usei essa anfetamina. Consegui os pontos que precisava para passar e não precisei repetir a matéria.

Da escrita: Game of Thrones e Cafeína

Enquanto leio sobre o personagem Bran (Brandon Stark), em As Crônicas de Gelo e Fogo (Livro II) de George R. R. Martin, e o início de sua relação com os lobos, me pego pensando mais uma vez sobre a escrita. Bran, aos poucos, começa a desenvolver um sexto sentido ao se comunicar com lobos. Passa a entender seus uivos e também a compreender os lobos. E a Velha Ama, quem cuida de Bran, diz: "(...) é mais forte em uns do que em outros".

Bran anda tendo sonhos e pesadelos frequentes. Sonhos que, às vezes, parecem reais. Uma espécie de delírio e alucinação. Como se estivesse recebendo uma mensagem através dos sonhos e ao mesmo tempo não soubesse o que é sonho e realidade. Bran, de fato, está desenvolvendo um outro sentido. É como se estivesse fazendo uma passagem e essa passagem é sempre caracterizada por um estado alterado de percepção.

A cafeína tem essa característica de alterar nossa percepção. Para melhor. Atenção redobrada, sinapses turbinadas. Uma sensação super agradável para ler, escrever ou estudar. A matemática é a mesma dos escritores malditos, assim como músicos e artistas que compõem sob efeito de alucinógenos ou dos índios e xamãs que que fazem seus rituais sob efeitos de peyotes e outras plantas. Carlos Castañeda, no livro A Erva do Diabo, diz uma frase muito interessante: "O crepúsculo é a fresta entre os mundos", ao narrar os ensinamentos do bruxo Dom Juan com os cactos alucinógenos no deserto. Essa fresta entre os mundos, me faz pensar na travessia de Bran para o outro lado dos White Walkers ou mesmo a travessia que a própria cafeína conduz ao me fazer ler, pensar e escrever mais sob seu efeito.

A Revista Info de março trouxe uma reportagem interessante sobre smartdrugs e propôs um debate um tanto inusitado sobre ética e produção acadêmica. É como se fosse um doping da Universidade, da mesma forma que atletas são impedidos de usar anabolizantes para competir. Me soa engraçado e um tanto curioso. Imaginem a cena entre dois doutores dentro de uma universidade: "Ah, ele tirou a nota maior que a minha no doutorado por que ele escreveu usando cafeína! Assim é mole!". Prêmios literários também poderiam desclassificar escritores sob uso de haxixe, anfetamina, cocaína? Álcool?

Enfim, o que me faz associar estas questões é justamente facilitar esta travessia de um momento x a um momento y de produção literária. Algumas pessoas já transitam nestes universos naturalmente, outras não. Gosto de pensar que todos somos livres para fazermos nosso caminho e podermos trilhar a melhor forma de desenvolver nossas habilidades. Não me interessam posturas morais, apenas possibilidades. Antropologicamente o ser humano sempre fez uso das substâncias mais diversas desde que vivíamos nas florestas - vide qualquer estudo de etnobotânicos por aí. Condenar estas possibilidades seria abrir mão de muita produção artística por aí de qualidade, como boa parte da produção cultural da década de 60 e 70. Como não associar o que era produzido por Pink Floyd e Yes ao uso de ácido lisérgico? Fora outras bandas geniais que também beberam nesta fonte e em outras. Escritores e poetas como Huxley, Rimbaud, Blake ou Kerouac que souberam sintertizar suas experiências em clássicos da literatura.

Para finalizar, associo a cafeína ao que Jim Morrison, baseado num poema de William Blake, sugeriu como nome de sua banda The Doors: "Se as portas da percepção fossem desobstruídas, tudo se revelaria ao homem exatamente como é, ou seja, infinito" (tradução livre).

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Atuações Intensas


Ontem assisti a um filme que me deixou sem chão, La vie d'Adèle ou Azul é a Cor Mais Quente, como foi traduzido por aqui. Os filmes franceses por si só já tem um quê de diferente dos filmes norte americanos, o enredo, a direção, fotografia e a própria língua já são diferenciais. Tendo sempre a associar bons filmes a dramas. Difícil outro gênero conseguir se elevar à condição máxima da arte como o drama. Acredito que nem exista um conceito sobre o que seria "a condição máxima da arte", mas acredito que possa ser algo de muito intenso, que possa ser vivenciado tanto ao assistir um filme como este ou qualquer tipo de experiência ímpar com algum grande gênio da literatura, filosofia, psicanálise, teatro ou música.


É verdade também que Woody Allen em seus filmes consegue também surpreender de forma ímpar com seus roteiros, direção, etc. A atuação das atrizes principais, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux, é fantástica e intensa, de uma forma que nunca vi atrizes atuando desta forma. Não sou nenhum crítico de cinema, nem muito menos devorador de filmes ou conhecedor profundo sobre o assunto, mas sei quando algo foge do normal. E no desenrolar da história e das cenas, me pegava pensando o tempo todo em como o filme foi rodado. Quem é este diretor? Como foi dirigir um filme deste? Como uma atriz tão nova (20 anos) é capaz de atuar desta maneira?

O filme contém cenas de sexo real, mas os questionamentos levantados por mim não são por causa do sexo. Porém, as cenas de sexo são impressionantes e muito reais. Tão intensas quanto o filme todo. O sexo, o relacionamento, o drama, a angústia, são quase que um salto no escuro (sem nenhuma referência a Kierkegaard).


O filme também trás referência a arte, filosofia e literatura. Em vários momentos surgem diálogos sobre diferentes escolas de arte, existencialismo sartreano, assim como as aulas de literatura de Adèle. Arte, filosofia, literatura e língua francesa combinam perfeitamente e o filme merece ser visto bebendo um bom vinho tinto.

Ainda ando lendo sobre as atrizes pela internet e sobre o diretor. Virei fã de carteirinha do trio. Li também algumas críticas quanto a nudez das atrizes e um possível arrependimento do diretor, conforme consta no wikipedia. Não sei se me soa como jogada de marketing para chamar mais atenção para o filme ou se ele mesmo se arrependeu de alguma coisa. Existem filmes que apelam para uma ou outra cena de nudez ou acabam abusando da nudez para vender mais. O filme sem as cenas eróticas seria ainda sim muito bom, porém, com as cenas, faz o filme ser três vezes melhor. Não pela nudez em si, mas pela nudez que o diretor mostra. Acredito que muita gente possa discordar de mim ou até mesmo chamar de abuso, mas aquilo é arte da forma mais bela.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Onde estão os Blogs?


Há algum tempo tenho procurado por blogs para seguir e não tenho encontrado nada de interessante. Reativei há pouco tempo meu perfil no facebook para participar de grupos de blogueiros e leitores e me deparei com um universo totalmente diferente do que conhecia há alguns anos. Todo mundo que navega pela internet pelos últimos 10 anos, talvez, ou que acompanhou o surgimento dos blogs, sabe que ele tem referência com a ideia de se escrever um diario online, onde qualquer pessoa possa acompanhar a vida pessoal de alguém que deseja expor suas ideias, etc. Entretanto, os blogs ganharam mil e outras formas de serem escritos. Virou uma ferramenta para se divulgar qualquer tipo de coisa e muito usada por jornalistas também. Pra quem queria ter um site e não entendia nada de html, o blog era uma forma simples de se colocar uma pagina "no ar" em poucos segundos.

Os grupos de blogueiros no facebook funcionam ativamente, principalmente com divulgação de blogs. Confesso que o orkut era muito mais organizado. Uma vez postado algo na time line do facebook e adeus postagem, ela se perde ali para sempre e você não tem como rastreá-la. Existem centenas se blogs divulgados por lá diariamente. O curioso é que 99% dos blogs divulgados são de meninas e os assuntos se dividem em 3: "Literatura" (entre aspas mesmo), moda e maquiagem. São autoras adolescentes que trocam resenhas e dicas de livros e dicas de moda e maquiagem. Os livros seguem a linha best-sellers (o livro da moda agora é o tal "A culpa é das estrelas"). Não sei de quem é e já criei uma aversão gratuita pela histeria em torno dele.

Alguns blogs tem inclusive links para vídeos postados no You Tube pelas próprias blogueiras onde elas comentam os livros lidos e falam sobre maquiagem e moda. Por um lado, é muito legal ver uma nova geração sabendo se apropriar destas ferramentas e discutir tais questões, por outro tudo me soa tão fútil. As resenhas são rasas e sem base nenhuma. Ler um ou outro livro bobo é aceitável, ter uma estante e um blog somente de best-sellers é algo deveras superficial. Auto-ajuda então nem se fala. 20 pontos a menos. Ler 10 livros por mês de futilidade é como não ler nada. É pueril. Será que não se ensina nas escolas o que é literatura e o que é best-seller? Enfim, continuo procurando por aí blogs interessantes sobre literatura, filosofia, cultura e artes em geral. Mas estão cada vez mais raros.

Leituras da Quinzena


Amanhã termina uma quinzena de trabalho viajando. O saldo da quinzena foi de 2 livros lidos e 5 revistas. Mesmo tendo trazido apenas 1 livro comigo, pude recorrer ao Google Play para baixar um e-book. Como queria ler Sasha Grey e não tinha muita certeza se valeria a pena comprar, resolvi baixá-lo. Apesar de ainda ser fã do formato antigo e gostar de ter os livros que leio em minha estante, acho genial a oportunidade de ter acesso ao livro que quiser através do tablet e lê-lo como se estivesse folheando um livro de verdade. É o segundo livro este ano que leio no tablet.

Como gosto de ler revistas também, algumas delas compro todo mês, outras compro esporadicamente. Quando não tenho tempo para ir a uma banca ou quando perco uma edição, recorro também as edições digitais. A experiência de ler uma revista num tablet é sensacional. É uma experiência multimídia, pois existem recursos como vídeos, slides e músicas. Sempre que leio uma revista física me deparo com referências a vídeos, shows, séries, ou música e acabo tendo que parar a leitura e recorrer ao computador para checar ou conferir determinada referência. Quando se tem esses recursos já digitalizados dentro da revista é muito mais prático. Poupa-se tempo e aumenta-se a interação e experiência de leitura da revista.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Leituras Diárias

Há algum tempo tenho estipulado uma certa rotina de leitura pra mim. Tenho lido muito mais nos 3 últimos meses do que nos últimos anos e isso me faz querer escrever. Pelo menos, me estimula a ter ideias para escrever. Nem sempre escrevo quando tenho vontade e muitas vezes perco as ideias, assim como um fotógrafo perde uma fotografia se não estiver com a câmera em punho no exato momento em que percebe uma oportunidade de uma boa foto espontânea. Meus interesses de leitura além da literatura, englobam assuntos como filosofia, política, educação, contracultura, economia, psicanálise, sociologia, artes em geral (música, teatro, cinema...) e o que mais de interessante estiver ao meu alcance.

Tenho uma lista enorme de livros para ler e assim como bom leitor, tenho mais material para ser lido do que materiais já lidos. Não me contento apenas com leitura de livros. Uma coisa que me incomoda em pessoas que lêem, são pessoas limitadas a apenas um assunto. Gosto de pessoas que passeiam por diversos assuntos e que tem curiosidade de aprender sobre diversas coisas. Não tem nada mais decepcionante do que ouvir alguém dizer que gosta de ler ou está lendo bastante e quando indagada do que está lendo, a resposta é: livros da faculdade. "Ah, tá...". E por mais que a pessoa curse algo de interessante, sempre vem a barreira da limitação.

Ler muitos livros de literatura, ficção, história, romances é legal. Mas quando você comenta algo sobre a atual conjuntura nacional ou internacional e você percebe que a pessoa não sabe nada do que acontece fora do mundo dela também é decepcionante. Acho que a pessoa ganha num ponto e perde muito no outro. Sei que muitas vezes é difícil ter pernas e braços para abraçar o mundo, mas há de se fazer o mínimo ou ficar alienado a apenas 1 tipo de informação ou conhecimento. Ninguém é obrigado a conhecer tudo, mas o simples fato de pelo menos ter uma referência de algo já te torna mais interessante.

Acredito que eu reme mesmo contra a maré. 98% das pessoas que conheci na faculdade liam apenas o que era mandado ler. E eu não tinha a menor paciência para essas pessoas, me restringia a um pequeno e seleto grupo de leitores rebeldes, que liam mais do que o básico e liam coisas que não tinham nada a ver com o que se estudava no nosso curso. É verdade que o conhecimento de verdade está nos livros e não nos jornais e revistas. Na mídia retiramos apenas as informações. O pensar mesmo se constrói com um bom alicerce de livros. Conheço algumas pessoas que são super antenadas nos jornais e revistas semanais, mas não tem um bom alicerce político e filosófico dos livros, uma boa bagagem de conhecimento e vivem a arrotar e repetir o que ouvem da televisão sem ter senso crítico. São simplesmente massa de manobra, os reaças que proliferam aos montes pelo facebook, também conhecidos como coxinhas.

Conheço algumas pessoas da área educacional que nunca lêem. Parece mentira, mas não é. Não lêem sequer um único livro por ano, porque dizem que não tem tempo para isso. Como um professor pode servir de péssimo exemplo de leitor para seus alunos? Mas existem vários por aí.

Minha rotina básica consiste em 1 hora de leitura de revistas e 1 hora de leitura de um livro diariamente. Já passei épocas em que não conseguia ler nada. Estava muito desestimulado, tentava me planejar e não conseguia. Então comecei a deduzir que eu não tinha que ler só se fosse ler durante 2 ou 3 horas, mas que se eu pudesse destinar pelo menos o mínimo de tempo por dia, eu já estaria por satisfeito, nem que fosse apenas 30 minutos.

Nos últimos meses tenho lido diariamente. É raro o dia que não leio. Faço um acomanhamento diário de minhas leituras no Excel e tenho visto meu desenvolvimento nos últimos meses. Algumas das revistas que leio todo mês são: Revista Cult, Roadie Crew, Info, Modern Drummer, Rolling Stone, Trip, Quatro Rodas, entre outras. Como trabalho viajando, leio diariamente uma média de 2 a 3 horas por dia depois de 12 horas de trabalho. Quando estou de folga consigo me dedicar um pouco mais. Acho que aquele ditado: Você é aquilo que come, também se aplica a leitura: Você é aquilo que lê.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Juliette Society & Sasha Grey


Juliette Society é um livro escrito pela atriz pornô Sasha Grey. Desde o ano passado fiquei sabendo que Sasha Grey esteve em São Paulo para o lançamento do livro, o que de fato, me deixou bem curioso para lê-lo. Conheço pouco o trabalho dela como atriz, apesar já ter visto algumas cenas dela, inclusive em filmes da Belladonna. É uma boa atriz e segue uma linha de atuação a lá Belladonna, o que me agrada bastante.

No início do ano li 50 tons de cinza e acho que por razões óbvias não dediquei nenhuma linha aqui no blog sobre o livro. Na época estava precisando de uma leitura light e acabei por dar uma espiada no que se tratava e para entender o motivo de tanto frenesi entre as mulheres. É interessante, às vezes, ler certas coisas apenas para saber como foram escritas. Acho que é como provar uma torta, apenas para decifrar quais ingredientes foram usados.

O enredo de Juliette Society me chamou um pouco a atenção, mas confesso que me soou clichê um pouco clichê, a coisa da sociedade secreta, o tema erótico e comercial. Nada muito original e, de fato, até arriscável. Escrever um livro/romance erótico pode parecer simples, mas se for fazer bem feito, não deve ser fácil. O fato de ser escrito por uma atriz pornô contribuiu para meu interesse. Sasha Grey não é nenhuma atriz de peso como Silvia Saint, mas também não é nenhuma múmia como uma Júlia Paes. Beleza, filmes eróticos/pornô e literatura são coisas que me interessam, ainda mais quando vem juntas. Ler uma autora nova, contemporânea, também era algo que me interessava. De vez em quando é bom deixar os clássicos, os cânones e ver o que os autores novos andam escrevendo.

Confesso que o livre me surpreendeu no início. Logo no início da trama uma mistura da sétima arte, pinceladas de erotismo de leve e um toque de perversão, passando por citações de pensadores interessantes. Nada profundo, mas sutil. A resenha do livro, quando li me fez lembrar dos filmes Belle de Jour e também de O Albergue. A descrição logo nos primeiros capítulos da personagem de Catherine Deneuve e o enredo do filme de Buñuel vão dando um caldo especial a leitura do livro de Sasha.

É interessante pensar em Sasha enquanto atriz pornô e ao mesmo tempo escritora. A indústria de filmes adultos gira em torno de muito preconceito. Preconceito por quem faz parte e por quem assiste ou financia. Não nego que exista o lado negro da indústria, pois ele existe. Mas existe sempre um perfil por trás de atrizes pornôs e prostitutas, construído socialmente, ou talvez por elas mesmas, de que esta é uma atividade passageira e que se trata apenas de dinheiro. E quando pensamos nisso, acho que acabamos por, "sem querer", observar estas atrizes como "coitadas", como alguém que não sabe fazer nada ou não deu certo em nada, e a única coisa que lhe resta é ser fodida para ganhar algum trocado. Sasha Grey se mostra como uma boa escritora, com um estilo interessante e alguém que se interessa por arte e literatura.

Enquanto a lia sentia uma certa curiosidade literária-erótica, se é que podemos utilizar este termo, de como ela iria construir o enredo erótico do livro. Veja bem, não estamos falando de uma menina ingênua, que está dando seus primeiros passos no campo erótico. Apesar da fama de vulgaridade que o pornô tem, pela vasta quantidade de filmes pornôs ruins e da grande contribuição da indústria brasileira (vide Brasileirinhas), Sasha Grey não tem nada de vulgar. Pelo contrário, transmite uma imagem de menina tímida e simpática. Quem conhece seus filmes sabe que ela faz uma linha hardcore e que sexo anal é fichinha pra ela. A questão é, como ser hardcore na literatura sem ser vulgar, assim como nos filme dela? O fato do filme ter mais recursos como áudio e visual, não o faz mais fácil de pescar o espectador do que um romance. Transmitir ao leitor também uma boa história sem os recursos dos filmes também pode ser um desafio.



Alguns filmes pornôs não fazem nenhum mistério quanto ao seu roteiro: sexo oral, vaginal e anal. É um fórmula que não surpreende muito, mas que pode ser feita infinitas vezes com atrizes diferentes, de maneiras diferentes e sob ângulos diferentes, proporcionando inclusive, uma fotografia diferente, cenários, roteiros, luzes, etc. Então, como surpreender um fâ da Sasha Grey, que curte seu estilo de atuação nas páginas de um romance em que há sobre a autora, talvez, uma certa pressão de fazer algo tão bom quanto seu trabalho ou superior?

Confesso que algumas descrições de cenas de sexo não me causaram nenhum tipo de excitação. Não a leio como se lêsse Anais Nïn ou o Marquês de Sade. Leio-a como telespectador de suas cenas e, sinceramente, isso tem um grande peso na leitura. Porém, ela se esforça para descrever com bastante entusiasmo cenas de sexo oral, mas o vínculo com a Sasha atriz emerge a todo instante.

Voltando a cena de sexo oral, quando algo parecia ter se tornado clichê, eis que algo acontece. Até porque não se trata de um conto erótico, com ritmo marcado e aquele timing que deve ou deveria ser cumprido, mas de um romance. E o que muitas vezes é interessante é o questionamento de certos comportamentos masculinos, visto como estúpidos, que a personagem aponta como reflexo de horas perdidas que muitos homens gastam vendo filmes pornô e achando que as mulheres deveriam se comportar daquela maneira. O fato da autora ser uma atriz pornô famosa faz com que isso soe interessante.

Em alguns momentos o livro descamba quase para uma auto-ajuda ou ego trips para leitoras adolescentes de best-sellers. Isso deixa a desejar em alguns momentos. O livro, enfim, é bem melhor que 50 Tons de Cinza, porém, é um livro raso. É um livro light para se quebrar uma rotina de leituras complexas, mas também é um livro obrigatório pra quem curte a atriz e goste de ler. No fundo, acredito que ela não tenha desejado escrever um livro estritamente erótico para ser comparada com um Sade da vida, mas algo em que ela pudesse costurar em cima de uma colcha de retalhos e mostrar que ela é muito mais que uma atriz pornô, o que de fato é.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Max Cavalera - My Bloody Roots



Ler a biografia de um artista que você conhece bem é muito interessante. Na verdade, acabei descobrindo que conheço apenas 50% de seu trabalho, mas Max Cavalera sempre foi sinônimo da época clássica do Sepultura. Ler sua biografia me deu vontade de escutar todos os discos novamente e escutar os que ainda não conheço. O Sepultura apesar de ainda continuar na ativa, morreu pra mim em 1996 quando Max saiu. O Derick Green não chega e nunca chegou aos pés de Max.

Me lembro exatamente quando ouvi Sepultura pela primeira vez em 1992. O álbum era Bestial Devastation/Morbid Visions. Aquilo era extremamente pesado pra mim que era um moleque, mas algo ali me chamou atenção. Meus pais, na época não gostaram nada quando apareci com uma fita cassete gravada com aqueles dois discos. Gostava de ouvir na garagem de casa no último volume, principalmente a introdução de Bestial Devastation com aquela voz demoníaca. É um disco extremamente cru. São os primórdios do thrash metal brasileiro, algo que era praticamente inédito no país. Acho que levei mais de 10 anos para entender o disco.

Não é entender o que é dito no álbum, mas "pescar" a essência da coisa. Não consigo ver isso em nenhum outro estilo que não seja o rock. Sabe um disco ou uma banda que você ouve pela primeira vez e não curte, mas que em uma outra oportunidade aquilo faz todo um sentido diferente e você se torna fã? Já passei por isso várias vezes dentro do rock e algumas bandas levei anos para a ficha cair. Quando moleque também conheci o Slayer, uma outra banda de thrash, que eu ouvia. Acha muito rápido e técnico, mas não gostava como gostava de outras bandas. Levei muitos anos pra entender o Slayer e hoje sou muito fã. É uma das poucas bandas que ainda quero ver ao vivo e não tive a oportunidade.

Voltando ao Max, é um livro pra quem curte/curtiu o Sepultura ou se interessa em saber da vida do Max, de sua saída da banda e sua carreira solo. O livro é escrito de forma informal, como se você imaginasse o próprio Max te contando suas histórias pessoalmente. E confesso que em algumas vezes isso soa de forma meio juvenil. É óbvio que o cara não é nenhum Shopenhauer.

A história dos primórdios do Sepultura e o que está por trás do peso dos primeiros discos é bem interessante. O Sepultura, assim como o Slayer e outras bandas de metal fizeram álbums com letras pesadas, anticristãs e até satanistas no início de carreira. Quando eu era mais novo aquilo me incomodava de certo modo, pois não fazia parte da minha filosofia de vida. Hoje não estou nem aí. Curto bastante os primeiros discos, mas sempre questionei o por quê daquelas letras. Sempre foi sabido que o rock tem sua veia teatral e bebemos sempre na fonta da contracultura. O Sepultura e o Slayer nunca foram bandas de Black Metal e a evolução das bandas na década de 90 deixa isso bem claro. Max é um cara religioso, assim como Tom Araya - para uma certa decepção minha. Max explica de forma interessante a origem das letras pesadas dos primeiros álbums, quase que de forma freudiana.

A evolução da banda também é fantástica. É verdade que quando escutamos um álbum nem sempre temos ideia do que esta por trás das ideias que deram origem aquele trabalho. A descrição da gravação de Roots também é sensacional. Estive no último show daquela turnê no Brasil. Foi um show memorável em 1996, para ficar registrado na memória para sempre. O livro também aborda a fase solo de Max no Soulfly, Nailbomb, Cavalera Conspiracy, dentre outros. Depois de conhecer melhor estes projetos através do livro, pretendo me debruçar melhor para ouvi-los.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Game of Thrones

Apesar de me sentir ainda retardatário quando o assunto é a leitura da série, não podia deixar de citar e recomendar a leitura de George R. R. Martin da série Game of Thrones. Há um ano eu estava lendo Tolkien (Senhor dos Anéis), conforme algumas postagens anteriores. Tolkien foi uma grande referência para George R. R. Martin, mas é, de fato, um daqueles clichês em que o aluno supera seu mestre. Tão superior que já comprei o restante da série e pretendo ler em seguida. O primeiro volume (da foto) tem quase 600 páginas e os outros seguem o mesmo padrão.

Pra quem também não conhece a série, vale assistir. É de longe, o melhor que tem sido feito entre as séries que são lançadas todos os anos por diferentes canais. Óbvio que Breaking Bad, True Detective, dentre outras tem seus postos de destaque também, mas Game of Thrones é G.O.T..

A sensação de ler o livro é a mesma de ver a série. Não me recordo de ter lido nada igual. Não estou dizendo que é a melhor obra literária que já li, mas a adaptação que foi feita do livro é impressionante. A construção dos personagens, os cenários e as situações são impecáveis. Altamente recomendável.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Arte na Indústria Pornográfica


Difícil achar algum site, blog ou matéria sobre isso, certo? Eu também nem sei ao certo como abordar o tema, mas sei que gosto. Existe um certo "quê" na pornografia que me atrai. Confesso que sinto certa decepção quando ouço mulheres dizerem que não gostam de filme pornô ou que sente nojo por pornografia. É como se eu ouvi-se a mesma frase: "Sinto nojo de literatura ou filosofia". É como se não conseguissem enxergar um pouquinho além dos corpos nus e do ato sexual.

Existem milhões de filmes pornôs ruins. Muitos mesmo. Assim como existem muitos filmes comuns ruins, músicas ruins, peças de teatro ruins, arte ruim. Existe café ruim também, ou vinho, ou cerveja ruim. Mas nem por isso dizemos que café, cinema ou literatura não prestam. Existem, na verdade, pessoas que não enxergam um palmo à frente do nariz ou mesmo que tenham alguma questão com a nudez. Nos dois casos, elas geralmente não conseguem identificar nenhum motivo para tal aversão.

Enxergar algo de belo ou mesmo artístico num filme adulto também pode nos dizer como vemos as coisas ou como podemos sentir ou interpretar a visão do diretor. Porém, muito mais que isso é quando aquilo nos toca ou desperta nossos desejos. Uma certa cena, uma certa fantasia ou fetiche pode despertar um desejo muito intenso em uns e praticamente nada em outros. Isso só é possível porque o significante presente em cada estrutura do sujeito se inscreve de uma maneira singular e pode emergir no momento exato em que estamos expostos a determinadas circunstâncias como um perfume, um lugar, uma música ou mesmo uma cena erótica.

O mundo pornô está sempre se reinventando. Filmes, séries, jogos, sites, etc. Ontem procurando novidades no Pirate Bay me deparei com a sessão pornô do site. Tem mais de ano que não baixo filmes. Desde a morte do BM Torrent e do Puretna estou por fora do que de novo tem se feito por aí e acabei me deparando com o Czech Massage. São arquivos pequenos de 230 a 320 MB e podem ser baixados via torrent diretamente do Pirate Bay. É uma série, assim como as séries de Camel Toe, Public Nudity, In the VIP ou Bang Bus. Não são filmes, mas episódios pequenos. Czech Massage são episódios de 15 minutos em que mulheres são filmadas em uma sessão de massagem. Parece que foi até feito para o público feminino. A sensação é que são episódios "reais", onde as mulheres ganham uma massagem e tudo pode acontecer depois. Vale conferir.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Pensando mais um pouco (continução da postagem anterior)

Estava aqui pensando mais um pouco no assunto da última postagem e comecei a fazer umas associações, inclusive em alusão a Breaking Bad. A metanfetamina de Walter White tem tudo a ver com o combustível utilizado em muitos escritores para se criar esta sintonia perfeita com este momento de produção mágica - seja ela escrita ou leitura. Este assunto já foi tema inclusive de uma postagem do ano passado sobre smart drugs, logo quando comecei a escrever este blog.

É fato que um bom café, de preferência um bom espresso, nos faz acordar e nos deixa mais disperto. O café sempre esteve associado à leitura e a literatura, visto os cafés literários que acontecem por aí, assim como muitos coffee shops reservam na maioria das vezes um ambiente propício a leitura de seus clientes. Não quero escrever de forma didática, mas o café é uma substância que age de forma química no nosso cérebro, alterando nossa percepção e nos proporcionando um estado de maior atenção quando estamos lendo. No quesito químico e alteração da percepção nada se difere muito das drogas ilícitas. É sabido que Freud escrevia sob efeito de um estimulante mais poderoso, a cocaína. Inclusive, o próprio psicanalista publicou um livro sobre os efeitos mágicos do pó em sua percepção.

Interessante pensar também que nem somente de estimulantes outros autores, escritores e poetas se interessaram também. Thomas de Quincey escreveu um livro sobre suas experiências com o ópio e que foi influência para vários escritores posteriormente como Aldous Huxley, Baudelaire, Rimbaud e outros. A literatura beat usou e abusou das experiências alucinógenas como combustível para seus poemas e romances. Acredito que de certa forma, todos estavam interessados em se sintonizar a este momento ímpar de produção textual. Até que ponto somos sujeitos meramente reféns do estado X de nossos cérebros? Até que ponto uma ajudinha é válida? O uso de substâncias químicas ou drogas, como preferirem, diminui ou não sua capacidade de pensar? E destes escritores tidos como cânones? E o seu cérebro, tem fome de quê?

A Química da Leitura e a Química da Escrita

Não, o título não é uma referência ao subtítulo que a Record adotou para Breaking Bad. Enfim, ando pensando muito em como a química em nossos cérebros pode influenciar nossos comportamentos e nossos sentidos. Não por acaso, tenho uma linha de pensamento, de certa forma, treinada a pensar o contrário. Porém, não se pode radicalizar nenhuma das opiniões tomando como norte a polaridade das mesmas. Há sim um meio termo, porém, o quanto disso pode ser mensurado ou tomado por verdade? Falando em seres humanos, como objeto desta análise, torna-se o assunto mais delicado ainda, visto a singularidade de cada um.

A escrita não é para mim uma válvula de escape como a é em muitos escritores. Sou antes de tudo um leitor. Mas um leitor que gostaria de ser escritor. Perguntas como o que inspiram os escritores a escrever ou como é o processso criativo destes, estão sempre presentes em encontros literários e entrevistas com grandes autores e são sempre interessantes as respostas de cada um. Será que a escrita tem a ver apenas com o desejo de escrever? Será que é um momento sináptico especial somado a uma boa dose de brainstorm de certos sujeitos? Como "calibrar" e acertar estes "ponteiros" no momento exato deste processo sempre que se quer produzir um texto, um conto ou uma tese?

É difícil de se escrever um manual da escrita como processo, pois pode não funcionar para todos. Porém, quem estuda ou escreve já deve ter se pego pensando em quais elementos ajudam a equilibrar ou criar um ambiente propício para a coisa. Um local organizado, arrumado, em silêncio ou com música erudita, uma janela com uma vista inspiradora ou uma biblioteca cercada de livros, um ar condicionado na temperatura ideal, uma casa vazia ou uma casa no campo/praia, etc. Existem inúmeras situações em que pode-se proporcionar um ambiente ideal para escrita. Porém, estas são as situações externas. E as internas? Com todo o universo exterior fluindo para sua escrita, leitura ou estudo, como lidar com seus demônios internos? Estariam eles dispostos a cooperar por causa de uma simples arrumação? Excluo aqui as situações em que somos impelidos a produzir algo por causa de uma faculdade, curso, trabalho, pois muitas vezes a pressão externa basta para produzirmos algo. Porém, no meu caso, quando estive submetido a estas pressões, muitas vezes não sentia o clímax da uma boa leitura ou escrita, como muitas vezes deveriam ser.

Escrever é sintetizar tudo aquilo que pensamos, pesquisamos ou sentimos em determinado gênero de leitura. Nem parece difícil quando o fazemos em algumas vezes, entretanto, em outras cria-se aquele bloqueio diante da tela em branco com o cursor piscando. A leitura não é menos simples também. Ler um livro técnico é diferente de ler um romance, um best seller ou um livro de contos do Luís Fernando Veríssimo. Alguns livros podem ser lidos no ônibus indo para o trabalho outros requerem total atenção e exigem certas anotações durante a leitura, ou necessariamente, estar sintonizado naquele tipo de leitura.

Sou um leitor que poderia ler mais. Não sei se essa é uma preocupação de todos os amantes da leitura. Já pararam pra pensar em quantos livros você lê em 1 ano? Ou quantos você poderia ler em 1 mês? É notório que quanto mais se lê, mais bagagem se adquire e mais capacidade crítica se desenvolve em diversos campos e assuntos. Quem lê mais, possui muito mais assuntos interessantes para conversar e consequentemente se torna mais interessante. Tenho feito ultimamente um planejamento de minhas leituras (artigos científicos, livros, revistas, etc) diariamente. Sabe quando se tem a sensação de que o dia teve um bom rendimento intelectual? Vou falar mais sobre isto na próxima postagem. Pra finalizar, deixo no ar as questões: O quanto você leu hoje? O quanto leu nesta semana? Como ajustar o ponteiro e alinhar o desejo para uma boa produção de leitura e escrita?

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Leitor Indecente

Resolvi fazer um novo tumblr pra mim e que fosse também uma extensão deste blog. Fotos eróticas, sensuais, ou não, que gosto de ver. Acompanhe aqui.